sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Leônidas, por Eduardo Galeano.

Antes de Galeano, uma "breve" introdução à Leônidas.

Hoje, se estivesse vivo, Leônidas da Silva completaria 100 anos.



Começou no São Cristovão, do Rio, passando depois pelo Bonsucesso, onde também jogou basquete (!). Jogou ainda pelo Peñarol, Vasco, Botafogo, Flamengo e São Paulo, iniciando depois de aposentado dos gramados sua carreira de treinador. Durante sua carreira, foi artilheiro da copa de 1938, com oito gols, sendo um deles um golaço, contra a Polônia, de pés descalços. Foi prejudicado (assim como toda uma geração de jogadores) pela não realização das copas de 1942 e 1946, devido à Segunda Guerra Mundial. 


Autoproclamado inventor da bicicleta, talvez a finalização mais plástica do futebol, embora haja divergências quanto a isso. Chamado de "homem borracha", devido à sua flexibilidade, e de "diamante negro", por Raymond Thourmagem. 



Jogou numa época em que os negros ainda buscavam um espaço não só nacional, mas mundial. Athur Friedenreich, a bem da verdade, já lutara para tal mudança, que se deu a longo prazo (e até hoje, como em qualquer esfera social, o racismo se encontra presente, ainda que, às vezes, velado). Aliás, segundo consta no livro de Galeano, quando o Brasil foi eliminado da copa de 38, a imprensa oficial italiana, à época sobre a égide do fascismo, saudou "o triunfo da inteligências itálica contra a força bruta dos negros". Leônidas entrou nas canchas quando Friedenreich, a quem devemos o futebol plástico e alegre que hoje conhecemos, autor de 1.329 gols na sua carreira, já se retirava. 

Sem mais delongas, aí vai o texto de Eduardo Galeano, que está em seu ótimo livro Futebol ao sol e à sombra, publicado pela LP&M e que vale muito a leitura:


Leônidas 



Tinha o tamanho, a velocidade e a malícia de um mosquito. No Mundial de 38, um jornalista francês, da revista Match, contou-lhe seis pernas e opinou que ter tantas pernas era coisa de magia negra. Não sei se o jornalista francês terá percebido que, para o cúmulo, as muitas pernas de Leônidas podiam esticar-se por vários metros e se dobravam ou encolhiam de maneira diabólica. 

Leônidas da Silva entrou em campo no dia em que Arthur Friendenreich, já quarrentão, se afastou. Recebeu o cetro do velho mestre. Em pouco tempo, seu nome já era marca de cigarros e de chocolates. Recebia mais cartas que artista de cinema: as cartas lhe pediam uma foto, um autógrafo ou um emprego público. 

Leônidas fez muitos gols, que nunca contou. Alguns foram feitos do ar, os pés girando, a cabeça para baixo, de costas para o arco: foi muito hábil nas acrobacias da chilena, que os brasileiros chamas de bicicleta

Os gols de Leônidas eram tão lindos que até o goleiro vencido se levantava para felicitá-lo.

Retirado de: GALEANO, Eduardo. Futebol ao sol e à sombra. Porto Alegre: LP&M, 2012.



Caetano Bezerra

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