segunda-feira, 4 de abril de 2016

Análise: o Sport é um conjunto de boas intenções mal executadas

Sempre ouço colegas torcedores afirmando que "o Sport não tem padrão de jogo" para criticar o mau futebol do time. Discordo frontalmente. O Sport de Falcão tem um padrão de jogo claro, porém pessimamente idealizado, treinado e, consequentemente, executado. Explico. 

É visível que o time possui alguns conceitos claros, dedo de Falcão: marcação no campo adversário, agressiva, superioridade numérica no campo adversário, verticalidade no passe. Todos conceitos modernos, mas executadas de um modo tão equivocado que fazem com que as boas ideias de Falcão resultem num futebol lamentável. 

Para explicar melhor, usarei duas fotos do amigo Caio Moura (@Caio_MN87), tiradas na partida contra o CRB na ilha no último sábado, 02/04: uma que ilustra bem a fase defensiva do time, a outra, a ofensiva. Pode parecer pouco usar uma imagem congelada para analisar o desempenho de um time, mas o torcedor mais atento perceberá, decerto, os padrões que se repetem jogo após jogo. 

FASE DEFENSIVA 

Como já dito acima, Falcão tem um ideia clara de como se defender: agressividade, sempre indo à caça e tentando o bote, marcar no campo adversário. Entretanto o que se vê é um time que abre espaços e está sempre em desvantagem numérica em qualquer setor do campo. Vejamos a imagem abaixo: 


Um dos principais problemas defensivos da equipe idealizada por falcão se encontra acima: a linha defensiva é completamente exposta; raramente há um linha auxiliar para fechar o espaço adversário no último terço, protegendo a zaga. Desse modo, o adversário ganha espaço para evoluir. 

O que agrava e torna o time ainda mais vulnerável, porém, é o estilo de marcação empregado por Falcão. Se antes era por zona, onde se armava o time para o adversário cair na marcação, com linhas compactadas, não dando espaço para o mesmo, agora a marcação é agressiva: se vai à caça de quem possui a posse de bola, e num time sem solidariedade defensiva isso se mostra um erro. Abre-se um espaço de onde o defensor parte e o adversário, sempre em superioridade numérica, avança. Daí o tiro sai pela culatra: ao invés de roubar a bola rapidamente, o adversário chega facilmente na área do Sport pelos espaços dados pelo próprio time. 

Outra falha na imagem abaixo: 


A cena acima é frequente: volantes cobrindo laterais e auxiliando na marcação naquele setor, abandonando o meio-campo. A cobertura dos laterais pelo volante não cabe no jogo moderno, por implicar necessariamente no abandono do meio campo. É só se fazer um pergunta simples: se o volante vai marcar na lateral, quem está marcando o meio? A resposta: ninguém. O meio é completamente livre no Sport, o que explica as fáceis tabelas dos adversários, saída lenta para o ataque, e 2ª bola (o rebote) sempre do adversário.

Então, quem deveria auxiliar na marcação pelas pontas? Os extremas da equipe. Os pontas ou meias extremos da equipem não só podem, como devem ajudar na marcação dos laterais. Avançando o adversário com pontas e laterais, é suicídio tático deixá-los no 2x1 com o seu lateral, ou abrir espaço no meio, deslocando o volante para aquela marcação. Falcão não incumbe seus comandos dessa tarefa tática, ficando os mesmos, por vezes, parados na zona de ataque adversária, já presos na marcação. 

FASE OFENSIVA

Outra vez, é possível ver os ótimos conceitos que Falcão deseja implantar e consegue, porém de forma equivocada: Presença no campo adversário, verticalidade, e velocidade. Na prática, um time que possui a posse de bola, mas que por ser estático e está sempre de costas pro gol, sem aproximação, se coloca sempre na zona morta do campo, pouco produzindo enquanto tem a bola. 


A cena acima é frequente: cinco ou mais jogadores rubro-negros se enfiam entre os zagueiros para, teoricamente, dominar o campo de ataque. O resultado prático é diverso, com os jogadores se prendendo na marcação adversária e sempre de costas para o gol, distante de quem possui a posse de bola. Como visto acima, todos estão marcados, e pouco se preocupam em se aproximar de Rithely. Inexistem tabelas e triangulações, e o time nunca consegue avançar em velocidade vindo de trás, pois todos estão no campo ofensivo, facilmente marcados. 

Aqui, um dos malefícios de ter pontas que não voltam para marcar é demonstrado. Como eles nunca estão atrás, a transição do time é lenta. O ponta sempre recebe de costas, e não evolui com o time, pois sempre breca para buscar o pivô. Como o time não faz triangulações, não havendo geralmente mais de uma opção de passe para quem possui a bola, os avanços se resumem a corridas em linha reta pelos laterais e pontas, com pouca variedade ofensiva, pois já caem facilmente na marcação. 

O que ocorre quando um time avança 5-6 jogadores, todos de costas pro gol e distante de quem detêm a posse de bola? A falta de alternativas de passe resulta em chutões e lançamentos que, com o adversário possuindo o controle total da marcação, significa posse de bola perdida e contra-ataque cedido, tudo isso num time que possui pouca solidariedade defensiva e que dá amplo espaço pelo meio. 

-----

Entretanto, o que faz o Sport conseguir seus resultados? A individualidade. O poder de organização e precisão no bote de Rithely, a boa contribuição ofensiva de Renê nessa temporada, a velocidade e habilidade de Lenis, a presença de área de Túlio de Melo, a solidez de Durval e a segurança de Danilo Fernandes. Coletivamente, o Sport de Falcão é um desastre anunciado. Uma gama enorme de erros que possivelmente não serão corrigidos já que (e quem já ouviu as coletivas de Falcão bem sabe) o treinador da equipe não os considera erros. 

Resta saber se a direção irá se apoiar em resultados de clássicos até o anunciado desastre acontecer na competição mais importante do ano ou, de modo oposto, será preventiva e levará o bom elenco atual a alcançar voos mais altos no nacional. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário