domingo, 8 de dezembro de 2013

A nova velha manchete


Nesta última rodada do Brasileirão 2013, o que vai ficar marcado não foi a classificação do Atlético Paranaense Libertadores, conquistado diante do rebaixamento vexatório do Vasco. Não será a amarelado do Goiás, que deixou a vaga no G4 escapar na última rodada de maneira vexatória. Não será a vitória do fluminense, que acabou ainda assim o rebaixando, num jogo suspeito da parte do Bahia. O que marcará serão as cenas protagonizadas pelas torcidas do Atlético e do Vasco nas arquibancadas. E não se fala aqui de festa... 

Vamos lá: um jogo que por si só possuía uma carga de tensão enorme: dois times dependendo de si para conseguir seus objetivos. Tal fato poderia explicar o que aconteceu, mas não explica. Por ser um evento privado, segundo o MP, a PM não pode entrar no estádio, o que forçou o Atlético à contratar seguranças profissionais; oitenta (qualquer joguinho em recife existem cerca de 200 policiais). Desses, poucos ficavam no vão que dividiam as duas torcidas. Eis que ocorre uma invasão de umas das torcidas ao espaço da outra, iniciando-se uma lamentável confusão que terminou com 3 pessoas internadas em estado grave na UTI. 

No entanto, o ponto do texto não é a tragédia, por assim dizer, em si. Como sempre ocorre em casos de brigas entra torcidas, surgem propostas milagrosas de solução de todos os problemas: fim das organizadas, suspensão dos clubes, multas, perda de pontos... Em comum, tais propostas têm um aspecto: nenhuma visa incidir diretamente sobre o indivíduo, ficando apenas na superfície e causando um impacto diante da mídia, mas cujos efeitos são inócuos. Tanto é que tais medidas já foram adotas por várias vezes pelas autoridades do futebol brasileiro, e a violência continuou a existir.  

A punição, quando ocorre, visa a instituição e acaba por atingir torcedores que nenhum papel tiveram nos delitos cometidos. O indivíduo não é visado pela justiça, o que corrobora para a continuação de tais práticas. A perde de pontos incide sobre jogos já conquistados, e não possui nexo algum que ligue a conduta de um torcedor à punição de um time na tabela. A multa não é uma punição, é uma conta a ser paga, e que os clubes que ganham grandes quantias em dinheiro o fazem sem relutar, e logo retomam as práticas. O indivíduo passa lotado nas decisões punitivas, que resolvem atingir uma grande instituição ou organização, ganhando uma grande repercussão na mídia e gerando poucos resultados.  

Ainda existem as propostas esdrúxulas: proibição da cerveja nos estádios (o néctar da violência humana), e o famoso aumento no preço dos ingressos, que supostamente tiraria dos estádio "aquela gente", estando lá só "pessoas de bem" e "gente selecionada", como o consultor de Marketing esportivo Amir Somoggi em matéria para a Lance!. Novamente, soluções que atingem apenas a superfície e mais prejudicam a massa torcedora do que a violência em si. Efeito nulo.

A punição em casos como esses, amigos, não é proibir as organizadas dos estádios, tirar pontos conquistados legitimamente por uma equipe, ou tirar mandos de campo de ambos os times. São as pessoas que devem ser punidas. O dirigente que é eleito e de pronto veste a camisa da organizada, que faz campanha direta por um candidato em troca de favores, como mais ingressos gratuitos, salas nas dependências do clube e verbas anuais. O agressor que agride outro com uma barra de ferro. O torcedor que burla o sistema, leva um rojão e mata um torcedor, ainda que não fosse sua intenção. Aqui se pune o clube, ganhando a punição um destaque maior e gerando um falso sentimento de que as coisas mudaram. 



Ademais, é bom lembrar que a violência é onipresente, e não um "privilégio" do Brasil, como alguns insistem em acreditar. No leste europeu existe violência entre torcidas, no Egito existiu recentemente, e na Inglaterra (pro terror dos que acham que a solução pro Brasil é "sair desse país de merda) os Hooligans ainda resistem nas divisões inferiores, graças ao apartheid financeiro do campeonato promovido por uma política de ingressos semelhante à que querem aqui implantar. 

O homem. Esse que deve receber as sanções por suas atitudes, e não uma entidade que fisicamente não existe e não têm consciência própria, se não pelas decisões de homens. Que se encontram dentro dos clubes e fora dele. Sejam eles os ricos empresário que comandam nossos clubes, os integrantes de organizadas, ou o torcedor que simplesmente resolver partir pela agressão. 

Deste forma sim, venceremos!

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Ainda sobre o tema, segue o bom texto de Daniel Cassol, sobre a elitização como combate à violência nos estádios: http://impedimento.org/a-culpa-e-do-torcedor/