quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

A Primeira Liga e a revolução que não é



Imagem: superesportes mg

Desde que os alemães passaram com tudo por cima da seleção brasileira em pleno Mineirão na Copa do Mundo de 2014, todos perceberam que o futebol brasileiro tinha problemas. Porém, não vamos nos ater aqui ao fato de ter sido necessário que a canarinha tomasse 7 (SETE) gols em casa em um mundial para que fosse notado que algo precisava mudar. Esse não é o objetivo do presente texto. O fato é que desde esse evento, crônica e torcida se engajaram numa luta quixotesca, onde em cada esquina, em cada moinho, se encontrava um grande entrave ao desenvolvimento do futebol, que precisava ser combatido. 

Pois bem. Aparentemente, a nova arma nessa cruzada quixotesca é a tal Primeira Liga, surgida no seio da Liga Sul-Minas-Rio, que apesar de emular vários vícios que já existem no futebol, ganhou tons revolucionários nos últimos dias. Tomado pela suspeita que me surge sempre que algo é dado como grande novidade que salvará a todos, vários questionamentos vieram à mente, de modo que não me parece nada revolucionária a tal da primeira liga. Expliquemos. 

A Primeira Liga é elitista. O único critério para a participação na Liga é a grife: se você é grande no seu estado, é convidado a participar do certame. Ora, falamos aqui de um modelo que já nasceu viciado, tendo em vista que inexistiu diálogo dentro do seu próprio estado, com os clubes menores. Assim, de cara já se vê prejudicado o maior mérito da Liga: o rompimento com as federações. Respondamos a pergunta: quem rompeu com as federações realmente precisava das federações? O Flamengo precisa da FERJ? Ora, não há nada revolucionário em se fazer algo simplesmente por que se pode fazer. 

Isso nos leva a outro ponto: esse rompimento dos grandes com as federações não mostrou, em nenhum momento, interesse em libertar quem realmente se vê amarrado às federações: os pequenos clubes. Aprisionados por uma espécie de síndrome de Estocolmo, são tidos por vilões por alguns insensíveis, por se unirem sempre às federações em momentos de conflito. Ora, são clubes que apenas sobrevivem (e apenas sobreviver é algo bem grave) dentro do modelo atual. Grande parte dos clubes do Brasil, a imensa maioria, só tem calendário até maio. Os atletas são profissionais do futebol por cinco meses, e são desempregados nesse meio por sete. O que é oferecido a esses clubes? Novamente, os restos dos grandes. 

Por que, amigos, é muito fácil se rebelar quando SE PODE. Quando, na pior das hipóteses, um time que acabou de subir à série A ganha R$ 20 milhões. Ora, há uma barreira a ser ultrapassada aqui, que é completamente desprezada. E tem relação direta com o fracasso de nosso futebol. Porém, estamos saindo do tema. 

Voltemos. 

O que a Primeira Liga tem a oferecer a quem não é do mesmo grupinho de sempre? Por que a simples presença de Flamengo de Fluminense nessa liga (o que parece ser mais necessidade do que opção) já é grave indício de nova subordinação. É das garras do futebol do Rio e São Paulo que os clubes devem se libertar. Um clube que apenas de cotas de tevê recebe o valor de R$ 250 MI não se liberta de nada, pois nunca esteve preso. A presença de clubes do Rio, como que para legitimar o torneio, macula qualquer intenção revolucionária do mesmo, pois é contra a necessidade desses clubes que os demais devem se unir, pois um campeonato com 5 clubes é inviável, porém um com 15 integrantes é plenamente possível. Deve-se fazer com que os milionários clubes do sudeste do país sintam necessidade dos demais, e não o contrário. É disso que carece o espírito da Primeira Liga. 

Então, creio que seja necessário bem mais do que a Primeira Liga apresenta para que a mesma seja considerada algo transformador do futebol brasileiro, como grande parte da imprensa quer vender. Que se dialogue internamente. Que se preocupe com os menores. Que o debate passe do Espírito Santo e dialogue com a verdadeira Primeira Liga, a do Nordeste, como bem disse Cássio Zirpoli.

Até lá, é apenas vento. 

E vento até destrói, mas não muda.