sábado, 24 de agosto de 2013

Copa de 2014 e a onda recolonizante.

Calma. Nenhum europeu está invadindo território nacional, ou nenhum está batendo em nossa porta pra roubar qualquer tipo de riqueza nacional. O que acontece, senhores, é algo bem mais asqueroso e perigoso. É quando a colonização de mentes parte de dentro, do seio do próprio país. 

Não é coisa de hoje. Já se viu muita desgraça em território nacional em nome de se seguir o dito padrão europeu (que no futebol seria o padrão FIFA). No Rio, famílias foram desalojadas do centro da cidade pelos simples fato do "chique" rependinamente ter se tornado algo que não possibilitaria a coexistência dos hábitos mais acentrais e ORIGINAIS do povo brasileiro. E o povo, ao menos aqui, é realmente povo. Alí, no Rio, aquelas famílias foram deixadas ao deus-dará por que se resolveu que um novo modelo urbanístico (como sempre, não tão novo na europa) deveria ser implantado: alamedas modernas, arquitetura europeia. Ausência de identidade. 

Ao que parece, isso foi superado. Não por que o brasileiro tenha aceitado o que é daqui, veja bem. Agora ele atura o fato da favela poder ser um ambiente de produção cultural e social, atura as religiões de matriz africanas, e atura os índios (apesar de, via de regra, ninguém sequer lembrar dos índios). Mas tudo isso parece fugir do tema, então vamos lá: não existe caravela em sua porta, meu caro. O que é grave, haja vista que aí sim, se teria um sinal claro do que se deseja fazer em prol da copa. 

Passando para o campo da educação: nos ensinam que o inglês é a língua universal. A obviedade da metáfora não merece atenção. Mas será? Olhando um pouco pra dentro do território, a questão da língua não parece bem clara. Brasileiro não sabe falar inglês, e isso é tido com defeito. Até por que a globalização só deve ser globalizante pra um dos lados: o que globaliza suas condutas. 

Aí que, mediante toda a babaquice de padrão FIFA e a "telespectorização" do torcedor, ainda temos que nos deparar com quadros de tevê que nos dizem o que devemos seguir pra "fazer bonito" com a gringada. Hora, veja... Pra mudar a ótica que alguns podem achar de esquerda, vamos pensar de tal forma: se seu país quer ser soberado, ele não deve se curvar, mas sim se impor. 

Pois bem. 

Se não bastasse o padrão FIFA exigir mudanças apenas de um lado, o do torcedor (o espectador e o consumidor só se benefeciam, isso para não mencionar quem vende isso tudo), a própria grande mídia brasileira o tem feito. O  programa "Fantástico",  nos prega uma peça: devemos saber tratar o gringo. É... O cidadão que sai de Boston deve se sentir em Boston. Nada de errado, veja bem: TODO ser humano deve se sentir digno em toda parte. A não ser que isso mude o modo de agir de todo um povo. Segue abaixo o link da matéria.

http://www.youtube.com/watch?v=Jb2EF-ru5FM

O brasileiro não sabe falar inglês, fala palavrão, fala alto. Mas, como tantas outras coisas, isso não deve ser mudado pelo "simples" fato de ocorrerá aqui estarão (estarão?) milhares de gringos. A identidade de todo um povo, meus caros, não deve e não pode ser alterado. Até por que quando se vai ao exterior, lá não esperam de nós, meros brasileiros e mortais, que se fale português, mas sim inglês, francês, alemão. Não se pode agir mais como brasileiro. O objetivo de não chocar os nativos pressupõe o fato de que não podemos ser quem nós somos... 

... e eis que, a fim da copa de 2014, tal absurdo se estende até aqui: matéria do fantástico, vinheta na tv ensinando como receber um gringo, e polícia no RJ autuando quem joga lixo na rua. Não por ele jogar lixo na rua (o que quer queira, quer não, seja certo ou errado, é um hábito nacional) e por isso ser em si uma imbecilidade. Mas sim por que é um hábito que desagrada quem vem de fora. 

Que a onda imbecilizante persista, e que continuemos colonizados. A copa taí, e o gringo não pode se decpcionar. A depecpção só é permitida em nível interno, nunca de fora pra dentro. Isso só é permitido a nós mesmos.

Caetano Bezerra

domingo, 18 de agosto de 2013

Irá Guardiola resistir ao Bayern?



Em 19 de maio de 2012, Cech fechava o gol na final da Champions League, e o Chelsea se sagrava campeão da Europa, feito inédito para o clube inglês. Robben perde um pênalti, e aumenta ainda mais a sua fama de pipoqueiro. Toda uma (boa) geração de jovens jogares é fritada, e tal desconfiança tem seus reflexos na nationalelf, que há anos deve um título para o povo alemão. 

A desconfiança em torno do Bayern não era exagero: o Borussia Dortmund vinha de dois campeonatos alemães e uma copa da alemanha. Uma rivalidade começava, e não se podia ficar atrás. Os bávaros não conquistavam uma Champions desde 2001. Não que não tivessem alcançado nenhuma final até aquele ano. Alcançaram, e fracassaram. 

Nesse mesmo ambiente, Pep Guardiola sai do Barcelona, alegando desgaste. Campeão de tudo pelo Barça, e livre no mercado, em questão de meses era anunciado pelo Bayern, que clamava por títulos. Ao mesmo tempo, Heynckes já tinha consciência que seus dias estavam contados. O futebol intenso, porém até então "fracassado" de Heynckes daria lugar a um dos toques de bola mais impressionantes desde a seleção holandesa de 74, o estilo de Guardiola.



No meio-tempo entre o anúncio de Guardiola e sua posse, o Bayern foi campeão de TUDO. Levou a Bundesliga, Pokal, e inclusive a Champions League, competição na qual o futebol alemão mostrou sua força e qualidade, eliminando o badalado "campeonato espanhol", por assim dizer. Tudo isso com o mesmo elenco do fracasso anterior, e com gol do título marcado "pipoqueiro" Robben, que só virou titular da equipe devido a uma contusão Kroos. Heynckes, por sua vez, igonorava os prognósticos que diziam que ele tiraria o pé na sua "última" temporada pelos bávaros, e ganhou tudo jogando um futebol intenso e simplesmente impressionante. 

Nesse clima, Guardiola assume a equipe. Meses de estudo de táticas e  do idioma alemão seriam postas à prova, agora, sempre à sombra do impressionante resultado alcançado por Heynckes na temporada anterior. Nada que um supercampeão não conseguisse lidar. Será? 

Chegam os jogos da pré-temporada. O Bayern contratara o promissor Mario Götze do rival Dortmund e o igualmente promissor Thiago Alcântara junto ao Barcelona. A partir desses jogos começaram os problemas. O que se viu na pré-temporada foi a tentativa exacerbada de alterar radicalmente o inalterável.  Em contrapartida, Guardiola parecia fazer de tudo para encaixar Thiago no time, realojando outros jogadores para assegurar a titularidade de seus pupilo. Trocas de posicionamento desnecessárias: Lahm, o melhor lateral direito do mundo, foi pra volância; Martinez, improvisado de zagueiro; Müller foi jogar de centroavante.O futebol intenso de toques diretos e rápidos deu lugar ao toque de bola que impressionantes, mas é igualmente fatigante. Os bávaros, porém, golearam em seus amistosos e chamaram a atenção do mundo. O Bayern já impressionava à todos... Até a supercopa da alemanha... 


Naquele jogo de tirar o fôlego, o Borussia levou o título em cima do badalado e já cogitado como virtual campeão de tudo da temporada bayern, e ainda instaurara um mal estar dentro do clube. Assuntos antes abafados vieram à tona: Schweinsteiger, Ribery e Luís Gustavo declararam que não sabiam o que o treinador queria que eles fizessem em campo. Os improvisos malucos e desnecessários foram questionados, e o antigo Bayern pareceu ganhar sobrevida: Muller voltou pro meio, Mandzukic, grande nome da pré-temporada (apesar de escanteado por Pep pelo grave crime de ser centroavante), pro ataque, brocando como de costume. Lahm, o melhor do mundo na sua posição, voltou pra lateral, apesar de Guardiola ainda insistir em coloca-lo no meio no decorrer dos jogos (para a alegria do antes encostado Rafinha). 

Aí veio o alemão. Dois jogos em que o Bayern venceu, mas não convenceu ninguém. O esquema 4-1-4-1, inventado por Guardiola mostrava seus defeitos na marcação: um verdadeiro rombo nas costas dos meias. Nos dois primeiros jogos, muitos foram os contra-ataques tomados pelo time de Pep, que só não deixou de vencer pela qualidade individual de seus jogadores e pelo peso de sua camisa. 

O recado está sendo claro: Não se deve alterar o que é imutável, mas sim tentar aprimora-lo. A expectativa que se tinha do espanhol aliar o toque de bola e a movimentação do Barça com a intensidade da máquina alemã deu lugar à suspeita. E não sem motivos. Pelo contrário, eles foram enumerados à exaustão nesse texto. O ponto é: Irá Guardiola continuar a resistir ao estilo de jogo do Bayern pelo orgulho (ou arrogância) de querer a todo custo imprimir sua marca no time?

Caetano Bezerra

Apresentação.

Há algum tempo alimento o desejo de ter um blog pra falar de qualquer besteira. Acabei que decidi escrever minhas besteiras sobre algo bastante sério: o futebol. Nesse espaço, o futebol não vai ficar (ou ao menos vou tentar) reduzido aos resultados e análises dos jogos (os que eu assistir; não me comprometo a nada), mas também abordará as questões mais gerais do futebol, como a sua cultura, seu espaço, e bastante críticas ao futebol moderno, e a capitalização do futebol.

De antemão devo adiantar alguns fatos: sou torcedor do Sport Club do Recife, então, se por ventura alguém que não me conhece (o que seria uma grande surpresa) ler esse blog, não me xingue se eu "puxar mais" pro Sport. Até por que eu não sou jornalista, e por isso não tenho obrigação de ser hipócrita.

Enfim, apreciem o que for apreciável, e depreciem o que assim for.