terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Pela geral

Foto: globoesporte.com

Futebol é coisa séria.

A partir do momento que 20, 30 mil pessoas vão a um estádio para se embeber daquela atmosfera de "loucura, psicopatia e caos"(cc @impedimento), qualquer cidadão com o mínimo de juízo na cabeça não só pode, como deve parar e dizer "opa, calma lá, isso é importante".

Pois é, senhores, futebol é importante.

Você sai pra ver um jogo às 22:00 horas e volta pra casa no bacurau, tendo que estar de pé pra labutar no dia seguinte. Você briga com a mulher, come espetinho assado sabe-se lá quando, você estraçalha suas cordas vocais, você se indigna com uma derrota que já previa. Como se chamaria isso?

Não é paixão, pois paixão é algo bem mais lógico e racional. Portanto, não brinquemos com isso. Não brinquemos, presidente.

Se antes o futebol sofria com o caciquismos dos dirigentes folclóricos, fumando charuto, tomando whisky, tocando os clubes de uma forma totalmente irresponsável em prol do universo, da mística do futebol, daquela atmosfera, hoje temos o extremo oposto disso. Bem, isso é o Sport.

Dirigente que tratam os clubes com frieza, como um produto a ser vendido, um rótulo desprovido de significado, uma mera demanda de mercado sem substância. A lógica comercial e unicamente comercial (esse o real problema) chegou no sport como uma manada de bois desgovernada, atropelando tudo em prol de um suposto bom-mocismo que há tempos vem desbocando num higienismo do Sport Club do Recife.

Bem, vamos lá.

Bandeira da diretoria atual do Sport, aumentar o quadro de sócios do clube há tempos tem descambado para uma perigosa obsessão, que vem tirando do torcedor a característica de torcedor para ser apenas o consumidor. E isso é plenamente observável em como o torcedor do Sport vem se comportando em estádio nos últimos tempos.

Porém, quem dera essa fosse o problema.

A entrevista concedida hoje, 23/02/2016 mostra, tão claro quanto água, que o clube está nas mãos de pessoas que sequer sabem o que é futebol. O que é aquilo que escrevemos no começo do texto. E isso, senhores, é bastante grave.

A estratégia do clube para captar sócios é clara: você é obrigado a ser, caso queira exercer o seu direito moral de ver seu clube em campo regularmente. Obrigado, pois se deu uma elevação absurda de preços de ingressos, sendo a única via para conseguir ingressos mais baratos (na verdade, pelo mesmo valor que se pagava antes) se tornar sócio torcedor, no mínimo. E daí, depois de compelido a se tornar sócio, essa declaração: "e essa evolução não foi de sócios torcedores, que na realidade não são sócios. Esses apenas compram um programa para ter benefício no ingresso, mas não votam nem têm direitos estatutários". Ora, então o cabra que é praticamente obrigado a se tornar SÓCIO torcedor sequer é sócio? Caso o indivíduo simplesmente não possa pagar R$ 40,00/mês + ingressos, ele não é sócio?

Não é de se estranhar a abordagem. Afinal, justificando-se na luta contra as organizadas, a diretoria do Sport há tempos vem descambando para um higienismo cruel, onde o pobre não tem espaço. O ápice foi em Sport x Fortaleza, com ingressos para a Geral da Sede, tradicional setor popular do clube custavam R$ 80,00 (OITENTA) reais.

Aparentemente, é aceitável expulsar pobre do estádio, desde que se expulse organizada. Foi podado do trabalhador, do cara humilde que rala todo dia o direito de ir à ilha  ver Matheus Ferraz todo perdido no miolo de zaga e ainda querer voltar na próxima partida. Por que isso é futebol.

Sob nenhuma hipótese é aceitável que se tire pobre do estádio com a desculpa de combater a organizada. Até por que mesmo com ingressos absurdos, ela sempre estará lá. Quem não está é o torcedor. E é simplesmente execrável que se ache isso ok.

Entretanto, o que esperar de uma elite pensante rubro-negra, tomando as palavras de Luciano Bivar, que acha que pode ditar como a torcida grita SEU canto de guerra?

O que se vê hoje na ilha é um retrato melancólico do que ora foi. Vazia, sem alma, e sonolenta.

Então, devolvam o Sport ao povo. O Sport não é do presidente, o Sport não é meu, o Sport não é dos sócios.

O Sport é de qualquer um que vista essa camisa e bate no peito pra dizer que é Sport. Não brinque com isso.

Devolvam o Sport ao povo, ou o povo o tomará.

O Sport é de todos.